João Gomes, o ciclista que foi Rei na estrada e no Entrudo
Com a 85.ª Volta a Portugal em Bicicleta na rua, recordemos João Gomes, ciclista da Ovarense que em 1962 venceu uma etapa e foi 24.º da geral final, o seu melhor resultado.
João Gomes foi o mais rápido na etapa entre a Covilhã e Vila Real que incluía a terrível subida do Marão, a partir de Amarante, o bastante para fazer a seleção natural das hostes.
A chegada ao Alto de Espinho, antes do início da descida em direção a Parada de Cunhos, já se fizera de um modo que retalhara o pelotão. Atingir Vila Real implicava, além disso, uma última subida, a partir da ponte do rio Cabril, antes da meta, situada nas imediações das traseiras da Mocidade Portuguesa.
Algumas dezenas de espetadores distribuíam-se pela então “Avenida Marginal” (hoje “1° de maio”), saudando o esforço dos atletas.
João Gomes, que já estivera na origem do arranque do ciclismo em Ovar, chegou à frente e ganhou a etapa.
Era ele uma das molas que impulsionaram os dirigentes da Secção de Ciclismo da AD Ovarense a irem até onde não supunham ser possível.
Natural de Cucujães, João Gomes viveu a maior da vida em Ovar, cidade que o acolheu de braços abertos.
Iniciou a carreira de ciclista aos 19 anos e terminou-a aos 27, período durante o qual alcançou diversos objetivos, tendo ganho 27 provas na categoria de amador e participado em competições na Venezuela e em Espanha, para além de ter participado em seis voltas a Portugal e ganho duas etapas.
Quando abandonou o ciclismo, dedicou-se à Adega Social, um ponto de paragem que foi obrigatório para todos os adeptos da modalidade, e uma chancela da passagem pelo Carnaval de Ovar.
A sua dedicação ao Carnaval também marcou a vida de João Gomes desde cedo, tendo integrado grupos de piadas nos anos 60, um deles o BLI (Bebe Lá Isso).
A génese dos BLI (cujo símbolo era um galo de Barcelos e uma Caneca) está numa conhecida equipa de futebol amador que disputava campeonatos de populares de futebol, à qual o nosso Rei pertencia por ter igualmente o bichinho do futebol.
Os treinos desta equipa eram feitos sempre perto de locais de abastecimento imediato, como no Sol e Sombra, no Cunha “Ladrão” no Furadouro ou no Ventura do Torrão de Lameiro e, nestes convívios surgiu a ideia de participarem no Carnaval de Ovar, que se materializou na década de 60, na maior parte das vezes com o objetivo da crítica sosocial.
Nunca pousou completamente a bicicleta, mas o assumir de maiores responsabilidades na Adega Social tornou inviável a participação ativa em provas. Para animar, o Carnaval ia à Adega Social, um espaço de prolongamento das festividades da rua. Para além disso, Grupos de Carnaval como Pinguins e Axu -Mal fizeram da Adega a sua sede e o ponto de encontro dos seus membros.
Atualmente com 85 anos, deixou a hotelaria e reformou-se mas é sempre uma figura vareira que já foi Rei do pedal e do Carnaval (em 2015) e este ano lá estará a acompanhar mais uma edição da Volta a Portugal.