O concelho de Estarreja é o único território do norte do país e da região de Aveiro onde ainda se cultiva arroz, e a Fábrica da História – Arroz, com inauguração marcada para setembro, mas antes da abertura oficial, o equipamento abre as portas este sábado, 6 de julho, às 11h00, para receber uma exposição que homenageia a Mondadeira.
“Uma saia de roda com tecido riscado, uma blusa de chita e um avental de pano (…). Usavam sempre um lenço, escuro ou colorido com motivos florais e, por altura do calor, um chapéu de palha por cima”, esta era a base do traje da Mondadeira, a figura representativa do concelho de Estarreja que a exposição “As (11) Vidas da Ria” vai revelar. “As (11) Vidas da Ria” é uma exposição polinucleada desenvolvida pelos 11 Municípios da Região de Aveiro no âmbito da programação Aveiro – Capital Nacional da Cultura.
A Mondadeira tinha um trabalho imprescindível nos tempos áureos do cultivo do arroz no Baixo Vouga Lagunar em Estarreja, ao realizar o trabalho sazonal da monda – processo de retirar à mão as ervas daninhas que cresciam nos arrozais. Vinham a pé em bando para as marinhas, começavam o dia ao amanhecer e terminavam ao anoitecer. O seu trabalho era bastante penoso, uma vez que passavam grande parte do tempo dentro de água e curvadas. Apesar do trabalho árduo, no final de mais um dia, regressavam a cantar.
A orizicultura moldou a identidade do território Estarrejense e alavancou a economia local, sendo a mondadeira uma das figuras marcantes desta atividade.
Com uma localização privilegiada, que comunica diretamente com a ria, detentora de um património natural ímpar, Estarreja situa-se na sub-região do Baixo Vouga Lagunar com um ecossistema complexo e surpreendente, onde a água é protagonista e desenha na paisagem esteiros, ribeiras, canais e cais que lhe conferem uma beleza paisagística única.
Ao longo dos séculos, o Homem mudou o vasto território e converteu a terra, outrora alagada e inacessível, em terrenos férteis para o cultivo do arroz, que teve o seu início no século XIX e apogeu durante o século XX. Hoje, mantém-se a produção de arroz no concelho de Estarreja a uma escala artesanal e a qualidade num patamar superior.
Inauguração agendada para dia 14 de setembro
A cultura do arroz será valorizada no futuro museu Fábrica da História – Arroz, no edifício agora recuperado da antiga “Hidro-Eléctrica” – Fábrica de Descasque de Arroz de Estarreja. Com inauguração marcada para 14 de setembro, o novo equipamento pretende avivar a memória e as tradições associadas ao cultivo do cereal e à indústria do descasque.
O circuito museológico, com recurso a novas tecnologias, procura o reencontro com as técnicas, os métodos e os saberes das atividades produtivas tradicionais do cultivo do arroz, potenciando a leitura e a interpretação da relação harmoniosa entre as atividades do homem e da natureza.
Depois de integrar o imóvel no seu património (em 2015), por doação da família Marques Rodrigues, a autarquia decidiu recuperar o edifício. Após obras de requalificação, a Fábrica da História – Arroz transportará a história de Estarreja e da cultura do arroz. O equipamento incorpora um restaurante e uma zona multifuncional. A reabilitação da Antiga Fábrica de Descasque de Arroz e transformação em Fábrica da História implicou um investimento de 1,2M€, com uma comparticipação comunitária de 0,8M€. A empreitada insere-se na regeneração urbana e contribuirá para revitalizar uma significativa área da cidade.