Um evento local que atravessa gerações de pé, deixa de ser apenas uma festa local e ganha o estatuto de Marca; pelas características do acontecimento específico, o trajeto e a permanência fazem dele um
sucesso do povo, uma obra de arte (neste caso) desta gente Vareira, que se repete todos os anos,
carregada de sentimento e orgulho.
Os de Ovar vivem esta época de forma fervorosa, intensa – há até
quem viva só para ela – e, de forma muito natural, influenciam tudo o que está a volta; impulsionam alguma atividade comercial, atraem visitas dos concelhos limítrofes e chamam à sua cidade algumas dezenas de milhares de “aliens” que usam este lugar para espantar os espíritos da dureza dos dias, das vidas, das rotinas; – é uma salvação!
A marca Carnaval de Ovar tem uma sobrevida fruto da audácia de outros tempos e investimento na
qualidade do produto anteriormente oferecido; ainda surfamos uma “pororoca” de anos (onda no Araguari – Brasil, era uma das mais aguardadas por surfistas e turistas de todo o mundo. A extinção do fenómeno é considerada irreversível por pesquisadores e ocorreu devido ao desmatamento nas suas margens), de alturas em que este Carnaval viajava a anos-luz do resto da liga dos outros carnavais, com maquetes míticas, temas perspicazes, atuais e inteligentes, mas essencialmente com condições de palco (leia-se infraestrutura e produção de evento) adequadas à época e ao
que se fazia no país e no mundo, talvez até um pouco além.
As quebras que os tempos trouxeram, levaram o Carnaval de Ovar a perder metade das lantejoulas, a deixar-se levar pela mesmice e consequente não inovação – ficou-se pela satisfação de poucos, os suficientes para encher uma bancada numa avenida e uma fotografia com o Neptuno nas redes sociais.
Se olharmos com mais algum detalhe, Ovar, os Vareiros, investem todos os anos milhares de euros do
seu tempo num acontecimento que alimenta a economia local de forma precária e que serve essencialmente os interesses políticos a cada 4 anos; Sob uma perspetiva técnica, a qualidade do que é apresentado não pode de forma alguma ser encoberta com dois ou três concertos de artistas de segunda linha, muito embora o player principal destes acontecimentos seja de primeira (linha); estes acontecimentos não devem mascarar a falta de
investimento no profissionalismo da organização de um evento que envolve uma cidade inteira e que, por isso, requer outro cuidado na quantidade e qualidade de estruturas disponíveis ao bem estar dos consumidores.
Está nas mãos do executivo fazer acontecer, ouvir e aprofundar, para que este produto, feito e mantido
pelos vareiros, traga os benefícios em potencial à Cidade e à Região.
Este Carnaval Pode e Deve ser maior.
© Tiago Matos Vital – Professor, Diretor da Pós Graduação Organização e Gestão de Eventos, na Católica Porto Business School