Eventos: um vetor de desenvolvimento – Tiago Matos Vital
É impossível nos últimos dias ficar alheio a um dos maiores eventos que Portugal já se propôs receber, e muito se tem escrito sobre o acontecimento, quase sempre enfatizando os seus pontos negativos, contaminando assim a reputação do mercado de eventos, que de há alguns anos tem – apesar de todos os males – desempenhado um papel significativo na economia nacional.
É inegável o quanto esta área tem contribuído para o crescimento de vários setores, como o turismo, a hotelaria e o entretenimento. Eventos como convenções, conferências e feiras trazem uma quantidade significativa de receita para as cidades e países-sede por meio do aumento do turismo e dos gastos com hospedagem, transporte e alimentação. Além disso, esses acontecimentos oferecem oportunidades para as empresas se relacionarem e mostrarem os seus produtos e serviços, levando a possíveis vendas e parcerias; também gerando empregos na área de planeamento, coordenação e produção. No geral, o mercado de eventos é um aspeto vital da economia, porque impulsiona o crescimento e o desenvolvimento económico. De acordo com um estudo do Turismo de Portugal, a indústria do turismo como um todo, e onde se incluem os eventos, é um contribuinte significativo para a economia nacional. Representou cerca de 7,7% do PIB de Portugal em 2019 e criou empregos para cerca de 9,5% da força de trabalho do país. O mercado de eventos é uma parte crucial da indústria do turismo e, apesar dos deslizes decorrentes da pandemia que afetaram imenso o setor, é uma área que continua a crescer e a atrair mais visitantes ao país. Além disso, vale a pena ressaltar também o subsetor dos “meetings”, dentro do mercado de eventos, que gera um impacto económico significativo para o país. E convém também lembrar que, ainda que a maior parte deste impacto se tenha concentrado em cidades como Lisboa e Porto, a verdade é que a importância desta atividade económica também pode vir a redundar em ganhos para o desenvolvimento do interior de Portugal de várias formas.
– Em primeiro lugar através do turismo, com a realização de eventos como festivais, concertos e conferências, ou mesmo eventos religiosos, que podem atrair visitantes a zonas mais interiores, impulsionando assim a economia local através do aumento das despesas com alojamento, transporte e alimentação, e ajudando a promover a cultura e a história da região, e incentivando a visita de mais turistas.
– Em segundo lugar através da criação de empregos, dado que o setor dos eventos ajuda a criar postos de trabalho para residentes locais em áreas como o planeamento, a coordenação e produção, o que pode ajudar a reduzir o desemprego e melhorar a economia local.
– Em terceiro lugar, outra forma de desenvolvimento é a que decorre do próprio desenvolvimento de infraestruturas locais, uma vez que com a realização de eventos, novos espaços públicos, hotéis e redes de transportes podem ser criadas, tornando assim a região mais atraente para visitantes e locais.
– E, em quarto lugar temos a promoção da cultura e do património local, uma vez que os eventos podem dar a conhecer a cultura e o património local das regiões do interior de Portugal, promovendo as características únicas do território e atraindo mais visitantes.
– Por último, e não menos importante, temos a atração de investimentos, uma consequência lógica do sucesso de um evento, tanto do setor privado quanto do setor público, mesmo para além do período de realização do evento, aspetos que também podem ajudar a melhorar o desenvolvimento económico da região.
Parece assim evidente que a cultura local do interior de Portugal pode ser um mercado potencial para este setor de atividade, estimulando a atração de visitantes interessados em vivenciar a cultura e o património únicos da região. As regiões do interior de Portugal são conhecidas pela sua história rica, costumes tradicionais e arquitetura única, que podem ser destacadas através de eventos como festivais culturais, concertos e passeios históricos. A promoção da cultura e do património locais pode também ajudar a diferenciar as regiões distinguindo-as das zonas mais turísticas, normalmente no litoral, e atrair um tipo diferente de visitante. Isso pode ajudar a criar uma indústria de turismo sustentável no interior, atrair visitantes interessados em experimentar a cultura e o modo de vida autênticos, podendo igualmente contribuir para a fixação de residentes, repatriação de eventuais expatriados e aumentar o interesse por parte de novos cidadãos que ali se desejem instalar, independentemente da sua nacionalidade. Se a isto juntarmos um eventual interesse na captação de investimento por parte de empresas (nacionais ou estrangeiras), então estamos a falar de um verdadeiro instrumento de marketing territorial que tem ainda muito a dar, constituindo assim uma importante ferramenta que poderá ter um papel crucial no legado que se pretende deixar para as gerações futuras.
Assim, parece fundamental convencer os patrocinadores a financiar eventos no interior de Portugal, apresentando-lhes dados de mercado, destacando o público-alvo mais interessado nestas ofertas, oferecendo oportunidades de exposição, demonstrando capacidade de organização, criando parcerias, designadamente com entidades locais e explicando a importância do eventual impacto social positivo criado. Este trabalho, que deve partir dos municípios, comunidades intermunicipais, ou outros órgãos de desenvolvimento local e regional, é um trabalho que interessa a todos e não apenas às regiões. É em última análise um vetor de desenvolvimento de Portugal.
© Tiago Matos Vital
Professor, Diretor da Pós Graduação Organização e Gestão de Eventos, Católica Porto Business School
© Susana Costa e Silva
Professora Associada, Diretora do Mestrado em Marketing da Católica Porto Business School, Universidade Católica Portuguesa