To Be Or Not To Be – Sérgio Chaves
O povo decidiu: está decidido! É bom saber que a democracia ainda está viva em algumas partes do globo. Uma grande lição deram a Escócia e o Reino Unido à União Europeia, a Espanha e à Catalunha.
Com paixão, fervor e discussão, a vontade foi expressa no lugar correcto (as urnas) por mais de 80%, portanto o resultado, ainda que equilibrado deixa toda a gente de consciência tranquila.
Os resultados ditaram que como em quase tudo na vida, na dúvida deixa-se estar como está. À rebeldia dos mais novos, sobrepuseram-se o comodismo e a razão dos mais velhos. A meia-idade e os mais velhos não quiseram arriscar o dia de hoje por um ponto de interrogação no futuro, que já não seria secalhar para os olhos de alguns deles. Pensaram neles e nos filhos, quanto a mim não pensaram nos netos e para além deles.
Uma nação pequena pode crescer bem mais depressa mas também pode empobrecer do dia para a noite. A crise pós-2008, a falência dos princípais pilares financeiros escoceses e a chantagem da proibição da libra, fizeram a população entrar numa angústia face à ausência de certas respostas que a independência não conseguia desde já garantir. Já a impossibilidade de entrada na União Europeia foi pura demagogia, pois esta seria de direito à nova Escócia (ao contrário da Catalunha).
Quanto a mim, um país economicamente saudável mas com constrangimentos financeiros sobretudo derivido à sua dimensão e consequente exposição ao exterior, seria viável. Podia não o ser no curto-prazo devido à reorganização e ao castigo dos mercados imposto a essa audácia, mas a médio-longo prazo tenho poucas dúvidas que não fosse próspero.
As comparações têm sempre limitações, mas ali ao lado existe um país com um grau de desenvolvimento económico semelhante: a República da Irlanda. Sem o joker escocês chamado petróleo, mas com um activo chamado população jovem. Esse país foi atingido pelos raios da crise financeira, mas a resposta seguinte foi de que a economia existe, portanto as finanças não vencem. Esse país também se decidiu separar do Reino Unido, esse país passou dificuldades, mas esse país está vivo.
Esta é uma mera opinião! Quem sou eu para achar o que é melhor para alguém senão o próprio. O exercício que vou propôr é puramente académico mas: Portugal devia pertencer a Espanha? Claro que não! Mas se Portugal fosse território Espanhol, será que actualmente votaria ser independente? Não sei…
O que me parece é que aqui no país vizinho é tudo feito ao contrário. Os catalães querem desde já votar a sua independência quando não têm autorização para o fazer segundo a constituição. O Estado espanhol quer proibir. Julgo que uma consulta desta natureza devia ser alvo de ponderação e dar bastante tempo para amadurecer e debater, tal como no Reino Unido. Proibir não vai resolver os problemas, vai extremar posições e sobretudo soa a tirano. Por outro lado, querer um referendo sem comum acordo e sem perspectivas de poder entrar na UE nem manter o Euro também não me parece a coisa mais acertada.
No meio disto tudo a Velha Europa, na pele das suas enfadonhas instituições respirou de alívio, mas não muito tempo porque a guerra não está assim tão longe.
Sérgio Chaves
* Autor não aderiu ao novo acordo ortográfico