“O Carnaval é o segredo mais bem guardado do fotógrafo” – Pedro Tigre Vasconcelos
Há vários anos que vem sensibilizando vários actores mundiais para a “importância do dinheiro enviado por emigrantes para o desenvolvimento dos seus países de origem”.
Num momento em que há milhares de pessoas que fogem da guerra ou continuam a tentar atravessar o Mediterrâneo, este é um tema que continua na ordem do dia.
É o vareiro Pedro Tigre de Vasconcelos que gere o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD) da ONU – Organizações das Nações Unidas e tem conseguido conquistas importantes para a sua causa.
Apesar do seu projecto estar sediado em Roma, Pedro passa o ano a viajar um pouco por todo o mundo mas, nesta altura do ano, é em Ovar que o podemos encontrar de máquina fotográfica em punho, captando momentos que depois partilha na sua página Carnaval Ovar – PHOTOS para felicidade dos foliões que não lhe regateiam elogios.
1. Como nasceu a paixão pela fotografia?
A fotografia é uma das minhas paixões. Devo isso ao meu tio, Manuel Tigre. Aos 8 anos, fiquei deslumbrado com as cores das suas fotos, usando uma Polaroid e um flash apenas. Um pequeno truque que lhe rendeu muitos prémios. O contraste do céu azul escuro do Furadouro com o vermelho vívido e verde do barco dos pescadores fez um “clique” em mim. Desde então, fiquei viciado nas cores.
2. É um amor pela fotografia do Carnaval de Ovar ou é algo mais?
Adoro vídeos mas a magia das fotos é que permite captar um momento, enquadrar o instante, eternizar um sentimento e uma sensação, se o fizer bem. Uma foto que te faz parar e sentir, é uma boa foto. O Carnaval é, para mim, o segredo mais bem guardado do fotógrafo. Centenas de modelos apenas deixando o momento através das cores e da expressão. O que é que um fotógrafo pode pedir mais? Um dia, o segredo será revelado e muitos mais aproveitarão esta oportunidade de degustar um banquete fotográfico.
3. O que distingue a tua fotografia das demais?
isso, eu não sei responder. Deixo o julgamento para o público. O que sei é que durante décadas a fotografia do Carnaval de Ovar foi para muitos um apontar e disparar, faltando expressões, cores. Apenas fotos normais para vender pela unidade. Para muitos, o Carnaval é considerado a vitamina da alegria. Para mim, são as cores da alegria, e procuro partilhá-las, selecionando as minhas fotos mais inspiradoras com pessoas de Ovar e de todo o mundo.
4. Onde trabalhas e onde estás radicado?
A minha carreira não tem nada a ver com fotografia. Estou baseado em Roma, na sede de uma agência especializada das Nações Unidas (ONU) dedicada a erradicar a pobreza em áreas rurais de países em desenvolvimento.
5. Já viveste em muitos países do mundo. Vens de propósito a Ovar para viver o Carnaval e a fotografia da festa?
Até hoje visitei mais de 85 países por vários motivos. Quando posso, tiro uma folga para vir aqui ver a família e, claro, documentar o melhor mini Rio da Europa. Mas cá entre nós, o Rio pode ser meio aborrecido… há mais diversidade nos grupos daqui!
6. Depois de criares a tua página do Facebook recebes muitos pedidos?
Uma das coisas que mais me incomodou desde que comecei a acompanhar o carnaval como membro de grupos, seja os “Não Precisa” ou os “Zuzucas”, foi que, com a falta de redes sociais, só podia comprar fotos individuais no estúdio fotográfico local. Era a única alternativa, mas sempre senti a frustração, as saudades e o desejo dos foliões de quererem mais. Ter mais lembranças equivalentes ao que experienciaram na festa. A sensação de que o momento vivido não foi captado foi o que desencadeou a minha vontade de o fotografar. As minhas fotos são apenas uma pequena contribuição para essas pessoas, e para a posteridade de um “Grande Show” que esta pequena cidade oferece. É por isso que, apesar do enorme tempo gasto em “revelar” milhares de fotos, decidi que compartilhá-las, gratuitamente, era o meu objetivo. A minha recompensa são os comentários e o apoio das pessoas na minha página.
7. Como definirias o teu estilo?
O meu estilo é múltiplo e não consigo defini-lo. Pelo menos eu não posso. Talvez as pessoas reconheçam, mas eu não. Ao longo dos anos, fotografei paisagens, pessoas e modelos, aviação, animais e monumentos. Eu só gosto de apertar o “pause” no momento certo e sentir…
8. Qual é a tua opinião sobre a instantaneidade das fotografias de hoje?
Eu realmente gosto que qualquer um possa praticar fotografia. É incrível o que as pessoas podem fazer com um telefone, por exemplo. Eu só queria que as pessoas se concentrassem mais no que estão capturando, em vez de verificar se estão nas fotos… a tal moda selfie.
9. Que projetos gostarias de concretizar enquanto fotógrafo?
Neste caso, estou construindo um site para incluir todas as séries que fotografei durante o Carnaval de Ovar. É demorado e caro, mas que diabos! Paixão é paixão. Tenho planos de fazer um livro com as melhores fotos. Embora olhar as fotos num pequeno ecrã não seja mau, vê-las num papel bonito é uma história diferente. Talvez exponha em Ovar, um dia. Já expus a foto do Carnaval do meu perfil do Facebook no salão da ONU em Nova York, comemorando o Carnaval e a alegria pelo mundo. O que se segue? Ninguém sabe.
10. Se pudesses pedir um desejo para o Planeta, qual seria?
Não quero parecer cliché e dizer “Paz mundial”, porém… acho que a humanidade deveria realmente reconsiderar e abraçar o significado desta palavra. Muitas vezes vivemos numa bolha que, ao invés de nos proteger, apenas nos cega.