A Dentição da Criança – Por Enf.ª Rosa Perez
A história da dentição inicia-se, ainda, na gravidez com a génese dos dentes de leite, também chamada de primeira dentição ou dentição decídua.
O nascimento dos dentes é um marco do desenvolvimento do bebé. Com os primeiros dentinhos inicia-se uma nova etapa, que coincide com a introdução dos alimentos semi-sólidos e sólidos. Por esta altura, os bebés conquistam novas competências
motoras e sociais, como o desenvolvimento da coordenação mão-boca e a sua integração nas rotinas das refeições da família.
Os primeiros dentes a romper costumam ser os dois incisivos inferiores, a meio da gengiva de baixo, seguidos pelos incisivos superiores. Muitos bebés não sentem dor com o nascimento dos dentes, mas apenas um desconforto ligeiro. Outros, podem ficar irritados e chorosos, salivar
abundantemente e apresentar diarreia.
Consequentemente o eczema da boca, o eritema da fralda e do ânus, podem estar presentes. O bebé pode ainda apresentar dificuldade em dormir ou sono agitado. A gengiva pode apresentar-se vermelha e inchada, levando à rejeição do biberon. Nesta fase, ele tentará levar à boca tudo o que
estiver ao seu alcance, para com a massagem, atenuar a dor e o desconforto. Poderá surgir uma febrícula que só excecionalmente ultrapassará os 38,8ºC.
Primeira dentição, dentição de leite ou decídua
- É possível, a erupção de dentes acontecer antes do nascimento e, após, a sua cronologia pode ser variável para cada bebé. Em média, o aparecimento do 1º dente
acontece por volta dos 6 meses, sendo que:
Dos 4 meses aos 20 meses nascem 8 dentes incisivos;
Dos 12 meses aos 22 meses nascem os primeiros 4 primeiros molares;
Dos 14 meses aos 24 meses nascem os 4 caninos;
Dos 16 meses aos 36 meses aparecem os 4 segundos molares, num total de 20 dentes, completando-se, deste modo, a primeira dentição
Segunda dentição ou dentição definitiva
- A idade escolar é marcada, pelo início da dentição definitiva, nomeadamente o nascimento dos 4 primeiros molares e a substituição da dentição de leite, de modo
progressivo:
Dos 5 aos 7 anos nascem os 4 primeiros molares;
Dos 7 aos 8 anos aparecem 8 novos incisivos;
Dos 8 aos 9 anos nascem 4 novos pré-molares;
Dos 9 aos13 anos nascem 4 novos caninos e 4 novos pré-molares;
Aos 12 anos nascem os 4 segundos molares, num total de 28 dentes.
A dentição definitiva, fica completa entre os 16-25 anos, quando nascem os 4 terceiros molares, com um total de 32 dentes.
O uso de chupeta, assim como a sucção do dedo em excesso, para além dos 2 anos e meio de idade, pode provocar uma mordida aberta, “dentes de coelho” com necessidade de acompanhamento e, eventual, intervenção por ortodontia pediátrica.
Quando iniciar e como higienizar os dentes do bebé e criança?
Uma boa higiene dentária e os cuidados com a boca devem começar desde o nascimento.
Até aos 6 meses, convém limpar a boca, incluindo a língua, com uma compressa húmida, uma fralda de pano limpo ou uma dedeira dentária. A dedeira poderá usar-se
até ao aparecimento dos dentes posteriores. Nessa altura, deverá substituir a dedeira pela escova de dentes.
Por volta dos 12 meses, está recomendado o uso de escova e pasta dentífrica adequadas.
A pasta dentífrica deverá conter entre 1000 e 1500 ppm (mg/ml) de fluor.
Tendo em conta que a criança engole 30 a 70% da pasta de dentes utilizada é de extrema importância respeitar a quantidade recomendada em cada higienização e para cada idade, sendo recomendado:
- Até aos 2 anos, a quantidade equivalente a um grão de arroz;
Aos 3 anos, a quantidade equivalente a uma ervilha;
A partir dos 6 anos, a quantidade equivalente a um centímetro.
A escova deverá ser de silicone, com cabo anatómico e poucas reentrâncias para não acumular sujidade. O tamanho da cabeça da escova, deverá ser compatível com a arcada dentária da criança. As cerdas deverão ser macias. A escova deverá ser enxaguada após cada utilização e desinfetada periodicamente. Deverá ser guardada em local protegido e ser substituída a cada 3 meses ou antes, se necessário.
- Dependendo da idade devem ser seguidas as seguintes recomendações:
Entre os 2-4 anos, os pais devem proceder à higienização dos dentes do seu filho;
Entre os 4-6 anos, os pais ainda devem supervisionar a utilização da escova e da pasta dentífrica;
Após os 6 anos, geralmente, as crianças conseguem uma boa autonomia, higienizando corretamente os dentes sozinhas.
A lavagem deve ser realizada idealmente duas vezes por dia, uma das quais obrigatoriamente antes de deitar, após a última refeição.
O uso de açúcar deverá ser restrito.
Qual a importância dos primeiros dentes?
Os dentes temporários ou de leite têm várias funções no desenvolvimento normal da
criança. O aspeto estético é o mais visível, mas da saúde dos dentes depende também a mastigação, a manutenção dos espaços adequados para os dentes
permanentes, a fonética, o crescimento dos maxilares, bem como a qualidade da respiração e deglutição. Não devemos esquecer que os últimos dentes só serão substituídos por volta dos 11-12 anos e devem realizar as suas funções corretamente, até então.
Por volta dos 5 anos leve a sua criança ao dentista ou higienista oral para uma
consulta de rotina.
Devem tratar-se os “dentes de leite”?
Os dentes temporários podem ser afetados por cáries, tal como os definitivos. As características próprias dos primeiros dentes fazem com que, uma vez que se inicia a cárie dentária, esta avance rapidamente e afete o tecido nervoso do dente mais depressa do que nos definitivos. Evitar a dor produzida pela cárie, já é razão suficiente para conservar a saúde dos dentes, além disso, há que recordar que a cárie é um
processo infecioso e pode afetar a formação dos dentes definitivos, bem como a saúde em geral.
Colabore na promoção da saúde oral do seu filho, cumprindo as orientações do seu Médico/Enfermeiro de Família. Durante as consultas de vigilância poderá ser solicitada uma consulta de Saúde Oral ou a atribuição de cheque dentista, de acordo com o
Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral. (PNPSO)
USF João Semana
Enfermeira Rosa Perez, Especialista em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica
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