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Esmoriz GC prevê “tempos maus” após cerca de concelhia

O Esmoriz Ginásio Clube antecipa “sérias dificuldades” para permanecer competitivo no campeonato nacional de voleibol após a pandemia da covid-19, que impôs até há dias um singular estado de calamidade pública no concelho de Ovar.

“O impacto do vírus é enorme e veio complicar a vida das empresas, muitas delas nossas parceiras, que estão fechadas e não sabemos se contaremos com elas. Não podemos depender da verba da autarquia, destinada à formação, e temos de arranjar garantias para pagar aos atletas seniores. A próxima época vai estar muito dependente desta crise que atravessamos”, admitiu à agência Lusa o presidente António Guilherme Costa.

A Federação Portuguesa de Voleibol “mediu o pulso” ao Esmoriz e restantes primodivisionários antes de suspender todas as provas até 31 de agosto, desfecho reprovado pelo líder do clube esmorzense, convicto de que a temporada 2019/20 terminou e vai precipitar “tempos muito maus” para o desporto nacional.

“Não é fácil tomar a decisão, seja ela qual for. Se retomarmos em setembro, vamos utilizar os atletas que temos agora ou podemos usar novos jogadores? Temos um orçamento anual modesto de 50 mil euros e 70% dos atletas vinculados por mais uma época, mas estamos receosos, porque o dinheiro não vai abundar”, observou.

Vencedores da Taça de Portugal em 1981/82 e campeões nacionais nas duas temporadas posteriores, os esmorizenses repartem quase 270 atletas, treinadores e dirigentes por 17 escalões, que vão interagindo através das novas tecnologias e acompanham “à risca” a “prioridade” global em conter o novo coronavírus.

“Antes ia ao clube diariamente e agora passo mais tempo com a família. Moro numa das ruas mais movimentadas de Esmoriz e é muito raro ver carros a passar. As pessoas têm medo e resguardam-se em casa de um eventual contágio. Sei de casos nesta zona, todos fora do nosso âmbito, que estão bem controlados e até quase recuperados”, referiu.

Líder do Esmoriz desde junho de 2019, António Guilherme Costa planeia a distribuição dos CTT em quarentena, um pouco à semelhança do treinador e coordenador da formação Bruno Lima, residente em Espinho, concelho contíguo a Ovar, que encontra obstáculos para motivar os voleibolistas em pleno estado de emergência nacional.

“Estão todos bem e recolhidos nas suas casas, sem saber quando voltarão a competir. Não dei indicações especiais, mas alertei-os para a necessidade de manterem a forma física e estão a tentar geri-la da melhor maneira”, relatou o técnico do Esmoriz, sexto colocado da fase regular da Liga, com 40 pontos.

Exemplo dessa persistência é o atacante Roberto Reis, que transitou do apartamento em Esmoriz para uma moradia em Santa Maria da Feira, outro município limítrofe a Ovar, na qual montou um miniginásio e arranjou um campo relvado com rede para se exercitar “uma hora por dia” com o filho Gustavo, de 12 anos, que joga nos infantis do clube.

“Tem de ser um pouco autoimposto e com muita atenção para não engordar e evitar uma lesão séria quando regressar. O nosso metabolismo fica mais lento nesta idade e ainda quero jogar mais quatro ou cinco anos”, frisou à agência Lusa o ex-internacional português, de 40 anos, que passou pelo Sporting de Espinho, Benfica e Sporting.

Capitão de um plantel “tristíssimo” e sem “esperança” na retoma da época, Roberto Reis dirige o “foco total” nesta fase para a família, já que lida dia a dia com uma esposa pediatra a laborar no Hospital de São João, no Porto, onde também tem um cunhado ortopedista integrado na “linha da frente” do combate ao novo coronavírus.

“Dá as horas normais aos pacientes que não estão infetados e auxilia quem manifesta os primeiros sintomas e quer testar. Sabemos que eu e o meu filho podemos ser infetados, mas é o risco que estamos dispostos a correr, porque não abdicamos desta base”, contou o detentor de oito campeonatos ‘indoor’ e de praia, cinco Taças e sete Supertaças.

O zona 4 não vê pais e sogros há duas semanas e aplaude a “coragem” da inédita imposição de uma cerca sanitária em Ovar, que veio “acelerar a contenção local e ser repetida por mais cidades”, enquanto gera alternativas para “aliviar bastante” os hospitais, como atestou a cedência do pavilhão do Esmoriz à autarquia.

“No início, alguns acharam que foi uma medida extremamente brusca, mas temos de meter a mão na consciência e perceber que este vírus é uma praga. Mais do que os profissionais de saúde, está nas nossas mãos o poder de conter isto. Ou as pessoas são inteligentes ou então será muito mais complicado e só teremos voleibol lá para 2021”, apontou.

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