Jorge Henriques, director da escola de ciclismo da Efapel, equipa profissional sediada em Ovar, reflecte sobre uma cidade “parada” e um concelho “prejudicado no plano social e económico” por medidas “drásticas e exemplares”, que não deixaram de ser acatadas por uma “comunidade tranquila”.
“A zona de maior movimento é a praça do município, onde estão as forças autárquicas e civis. No parque urbano apanha-se uma ou outra pessoa isolada a caminhar e nas ruas não se veem carros e os lugares de estacionamento estão todos vagos, porque não se passa absolutamente nada”, descreveu à agência Lusa o ex-ciclista da Ovarense.
Mentor de 40 filiados entre os cinco e os 18 anos, que estão com provas suspensas até 03 de abril, Jorge Henriques apelou à juventude vareira que investisse na condição física através de bicicletas estáticas e aproveitasse a quarentena para imaginar formas de “quebrar a monotonia” imposta pela inédita cerca sanitária.
“É difícil gerir o lado emocional de jovens com vontade de andarem na rua e que têm de ficar fechados entre quatro paredes. O treino ‘indoor’ faz-se todo o ano em condições normais, mas ao terceiro dia seguido já ninguém aguenta. O corpo atinge uma temperatura brutal pelo exercício em si e o tempo parece que não passa”, elucidou.
O responsável pelas camadas jovens da Efapel também tem pesquisado “pequenos artefactos” que dinamizem os aprontos domiciliários, lamentando que os juniores convivam com “uma pressão enormíssima” entre abandonar o ciclismo ou mostrar serviço sem competição para poderem augurar uma oportunidade profissional.
“Não sabem quando vão voltar a competir, mas sabem que o treino ‘indoor’ não lhes traz a solução toda. Temos acompanhado e falado diariamente, sendo que gerir esta informação com estes jovens não é tarefa fácil”, observou Jorge Henriques, que ainda administra um dos maiores fabricantes ibéricos de mobiliário hospitalar.
Sediado na Murtosa, vila limítrofe de Ovar, e com uma fábrica em Bombarral, no distrito de Leiria, o negócio vai recebendo “muita solicitação” por causa da covid-19, que já fez de Espanha o segundo país mais com mais vítimas e exige o reforço dos hospitais portugueses, embora as expedições esbarrem numa gestão “complexa” em torno de Ovar.
“Tem de haver flexibilidade na entrada e saída de certos bens e pessoas. Preciso que entrem matérias-primas e não tenho nada, assim como os clientes pedem-me material e não consigo transportadoras que quebrem a cerca para levantar mercadorias. O controlo está mesmo muito apertado e esta semana tem sido mais difícil passar”, rematou.