Actividade funerária agora com cuidados redobrados
Profissionais falam num número elevado de funerais
Habituados a lidar com a morte, há profissionais a quem a actual realidade ainda consegue surpreender. Os cuidados têm que ser redobrados, mas eles esforçam-se por corresponder, por eles e por nós.
Isabel Duarte, responsável técnica da agência funerária Celina Soares & Emília Fernandes, Lda, relata que em São João e Ovar “tem havido funerais de manhã e de tarde, todos os dias”. São, normalmente, “pessoas de idade avançada e com antecedentes de problemas de saúde, mas nem todos são, oficialmente, de Covid19”.
Os números oficiais de infectados são, nestas duas freguesias, os mais elevados do concelho cuja quarentena sanitária termina no próximo dia 2 de abril, mas tudo indica que vá ser prolongada.
Isabel Duarte afirma que tem tido bastante mais trabalho do que é habitual e endereça palavras de agradecimento aos coveiros (assistentes operacionais) que trabalham nos cemitérios de Ovar e de São João, que têm sido “inexcedíveis”.
“Os cemitérios estão encerrados devido à situação que estamos a atravessar, mas os coveiros estão sempre disponíveis”, reconhece. “Basta telefonar e eles vêm logo abrir a porta para lá se poder depositar o corpo, já que não se pode fazê-lo nas capelas como era prática até aqui e depois na ajuda no sepultamento”.
São três em Ovar e três em São João os coveiros de serviço que também tiveram de alterar o seu quotidiano e indumentária para responderam a todas as solicitações, apresentando-se equipados com fato, máscara e luvas para se protegerem enquanto levam a cabo sua missão, hoje, mais difícl do que nunca.
“Tenho andado a transportar cadáveres com mais regularidade do que era costume, mas tem de ser e, mesmo para as funerárias, há regras novas que têm de ser respeitadas”, declara Isabel Duarte. “Eles vêm num saco branco, o chamado sudário, e não podemos vesti-los. As urnas vão fechadas no funeral”, descreve.
A Igreja Católica em Portugal suspendeu a celebração comunitária das Missas, mantendo a realização de funerais, com limitação à participação dos familiares mais próximos, durante a pandemia do Covid-19.
O rito – exclusivamente com a presença dos familiares directos – inclui apenas a Última Encomendação e Despedida (sem Missa) conforme o Ritual das Exéquias, seguindo o féretro para o cemitério, sem o habitual cortejo fúnebre. Os párocos também merecem palavras de reconhecimento da técnica. Aliás, o pároco de Ovar emitiu uma nota a informar que “teve de transformar em quarentena a sua Quaresma”, mas que se encontra bem.
Isabel Duarte desabafa que “custa muito ver apenas três, quatro ou cinco pessoas da família a acompanhar a urna, tristes, a chorar, pessoas que conhecemos e não podemos confortar. Isso também nos afecta”.
A missão de funerárias e coveiros está, pois, mais difícil e o risco está sempre à espreita. “Mas temos de continuar, protegendo-nos com batas, máscaras e luvas e vamos desmpenhando o nosso trabalho à espera de melhores dias”, remata.