João Tordo aderiu às “conversas úteis”
O escritor João Tordo é um admirador confesso do trabalho que está a ser desenvolvido no Museu de Ovar. Por isso, depois de ter participado, há cerca de três anos, num “À Palavra”, “ficou tão amigo do Museu de Ovar, que logo ficou apalavrado voltar”, agora para as “Conversas úteis”.
A conversa andou à volta dos livros do vencedor do Prémio Literário José Saramago, nomeadamente, sobre o seu mais recente romance, O Deslumbre de Cecília Flurr (2017), que, segundo ele, “se completam como um circulo”, referindo-se à trilogia que incluiu, O Luto de Elias Gro, e O Paraíso Segundo Lard, ambos publicados em 2015.
João Tordo agarrou na palavra que lhe foi sendo despertada por Carlos Granja, partilhando a sua experiência como escritor, iniciada só a partir dos 27 anos de idade, porque até aí, profissionalmente, era jornalista.
Começou então no Circulo de Leitores, falou da relação dos escritores com os leitores, porque, “nunca sabemos como vai ser a reação ao seu livro”, e da resistência, “que nem toda a gente tem”, reconheceu, “para chegar a um certo tempo a escrever e publicar”.
Para o escritor, que nasceu em Lisboa em 28 de agosto de 1975, licenciado em Filosofia e que estudou jornalismo e Escrita Criativa em Londres e Nova Iorque, os livros que escreve “são todos uma espécie de aventura”.
São temas que vêm de trás e andam a fermentar na cabeça do autor e em “notas” que vai acumulando em word, até à altura em que vão dando corpo ao romance. E sobre se chega a desistir de alguma história, João Tordo, responde que, “normalmente, não sou eu que desisto, são os romances que desistem. Deixam de ter caminho”, porque para si, “os livros são um momento”, admitindo que hoje não voltaria a escrever as mesmas histórias.
Nesta conversa útil, em que João Tordo, mostrou-se bastante crítico das redes sociais, considerando a sua dependência uma preocupante, “inactividade mental”, falou ainda da sua forma de escrita e dos personagens que cria, bem como as dificuldades num personagem para contar do ponto de vista feminino, tendo necessidade de regressar à infância.
Surpreendeu também os presentes com a disciplina que dedica à escrita, reservada apenas aos meses do ano entre junho e setembro, justificando que os restantes meses do ano, são indispensáveis às muitas viagens pelo país, nas sessões em bibliotecas e escolas, e igualmente pelo mundo.
Já no final da sessão, numa noite em que as palavras fluíram sem se dar pelas horas passarem, considerou um “choque” o Prémio José Saramago que venceu em 2009 com o livro As Três Vidas, porque, como admitiu, “o Prémio Saramago, muda carreira e faz vender livros”, e acrescentou, “exige maturidade”. Desafio a que teve de corresponder logo no início da sua carreira como escritor.
Entre as obras deste autor, com livros publicados em França, Itália, Brasil, Sérvia e Croácia, contam-se ainda títulos como, Biografia involuntária dos amantes (2014), O Ano Sabático (2012), O Livro dos Homens sem luz (2004), Hotel Memória (2007) ou O Bom Inverno (2010), que foi finalista do prémio Melhor Livro de Ficção Narrativa da Sociedade Portuguesa de Autores e do Prémio Literário Fernando Namora, prémio que voltaria a repetir como finalista, com Anatomia dos Mártires (2011). JL