Andreia Norton, a “nossa menina” – José Lopes
Como escreve o Expresso (29 de outubro) “…Andreia é avançada do SC Braga e a heroína do histórico apuramento de Portugal. Em pequena jogava à bola na rua, na praia, descalça, frente a um bando de rapazes.”
Recordar esta ex-aluna na comunidade escolar de Ovar é reviver um meio escolar em que nos últimos anos letivos se tem destacado algumas jovens alunas com bom domínio de bola entre os jovens alunos rapazes que vão resistindo às tentações dos jogos online nos tablet e telemóveis, preferindo transpirar a correr com a bola de futebol no campo da Escola António Dias Simões, agora na sua curta passagem para frequentarem apenas o 2.º ciclo.
A notícia de que a seleção portuguesa feminina de futebol se qualificou pela primeira vez na sua história para o campeonato da Europa a realizar na Holanda (entre16 de julho e 06 de agosto de 2017) ao empatar 1-1 frente à Roménia. E que tal feito ou seja, o golo que tinha colocado Portugal a vencer e que apesar do empate que se seguiu, permitiu a equipa portuguesa ter lugar através da última vaga para participar no Euro2017, foi conseguido pela “nossa menina” Andreia Norton. Trouxe à memória desta comunidade escolar de Ovar uma época em que, ao contrário da realidade de hoje, a então aluna Andreia Norton não passava despercebida, não só por ser a única rapariga entre rapazes a jogar futebol, mas também pelos dotes que exibia com a bola.
Como acontecia e ainda acontece, a prática desportiva na escola para a maioria dos alunos era uma oportunidade fundamental para o exercício físico saudável, mas para muitos outros, como o exemplo de Andreia, era a continuação diária da atividade desportiva desenvolvida em diferentes modalidades promovidas por clubes e associações através de dinâmicas desportivas que tive o grato privilégio de registar em textos e imagens para a imprensa com a qual colaborava.
É pois um destes registos, talvez um dos primeiros registos da Andreia Norton em páginas de jornais, que aqui se partilha, já que com a particularidade de simultaneamente trabalhar profissionalmente como não docente na EB António Dias Simões tinha uma relação mais próxima com estes jovens desportistas, fosse no futebol, basquetebol, atletismo, voleibol, ténis, vela ou natação. Ou ainda naturalmente, nas várias modalidades em Desporto Escolar. Foram muitos, mas muitos os trabalhos escritos com enorme prazer ao longo de vários anos no Jornal de Ovar e depois no Praça Pública.
Experiência pessoal que permitia divulgar o desempenho, a entrega, o caráter, a atitude, de muitos dos jovens alunos que eram bons exemplos do trabalho desenvolvido no fomento da prática desportiva e dos seus contributos a par da Escola na sua formação global.
Foi assim ao serviço do Jornal de Ovar que ao fazer cobertura de um jogo de futebol do escalão de infantis no Furadouro, entre o C.D. do Furadouro (treinadores Augusto Barbas e Márcio Silva) e o Arrifanense (3-8) que tive oportunidade de observar a “nossa menina” Andreia Norton que via jogar na Escola, mostrar as suas habilidades em campo pelado a disputar a bola aos rapazes. Deste trabalho resultou na edição do JO de 20/12/2007 o titulo “Escassas vitórias mas muita festa” em que, a jovem Andreia então com 11 anos teve direito a um destaque no jornal que muito gostava de fazer nesta atividade de colaboração na imprensa.
“Toque futebolístico feminino” foi o subtítulo para traduzir uma rápida conversa com a atleta que quase uma década depois se tornaria um orgulho para os portugueses. Na referida edição do JO a foto que lhe consegui captar um simpático sorriso, tinha como legenda “A filha de uma velha glória da Ovarense dá trunfos entre os rapazes”. E da conversa com ela no final do jogo resultou este destaque:
“O exemplo de Andreia cuja paixão pela prática do futebol a faz alinhar num conjunto masculino na ausência de oportunidades para o futebol feminino, ainda que não se conheçam outros casos pelas redondezas, não a fazem desistir, bem pelo contrário, ela é mesmo decisiva nesta equipa dos infantis do C.D. do Furadouro em que começou a jogar a bola como escolinhas.
Aceite como qualquer outro colega de equipa ou do adversário, Andreia, pelo facto de ser rapariga, nunca sentiu qualquer atitude discriminatória e sente-se normal em campo, porque como nos disse, “acho que as raparigas também devem jogar futebol”, ainda que admita que, “devia haver uma equipa de femininos, porque assim sentia-se melhor”.
Actualmente com 11 anos de idade, Andreia, que nasceu no Furadouro onde vive com a avó, embora não tenha conhecido o pai que voltou para o Brasil, o ex-futebolista brasileiro Valdecires “Pinga”, sabe que ele jogou futebol na Ovarense durante nove anos. Dele sem dúvida herdou o toque de bola, mas no feminino”.
Eis um bocadinho da história inicial da prática desportiva da jovem futebolista e nossa ex-aluna que ao marcar o golo decisivo frente à Roménia emocionou os portugueses em que certamente se incluem muitos dos seus ex-colegas de percurso escolar e de todos os docentes e não docentes das escolas que frequentou no Agrupamento de Escolas de Ovar.
A imprensa nestes dias tornou a “nossa menina” numa estrela que todos desejam continue a brilhar, e entre tanto que foi dito e escrito sobre esta jovem do Furadouro-Ovar, sintetiza-se que Andreia Norton colocou o seu nome na história do futebol feminino ao marcar o golo que apurou Portugal para o Campeonato da Europa, e na afirmação da jogadora de que, “a modalidade merece o mesmo grau de atenção que a vertente masculina”.
Andreia Norton nasceu a 15/08/1996, depois da sua formação inicial nas camadas jovens do C.D. do Furadouro, representou equipas de futebol feminino como: U.D. Oliveirense (2009/10); Cesarense (2010/13); Clube Albergaria Mazel (2013/15); Barcelona (2015/16) e S.C. Braga (2016/17). A atleta de Ovar conta ainda com sete internacionalizações.
Estas são as memórias que guardo como assistente operacional na EB António Dias Simões e como colaborador de imprensa sobre a fase de formação e crescimento da jovem Andreia Norton.
José Lopes