Vencedor do Prémio José Saramago quer continuar livre
O escritor Bruno Vieira Amaral foi o convidado do último “À Palavra com” no Museu de Ovar, em que a Ana Maria Ferreira, docente na Escola Secundária Júlio Dinis foi moderadora pela primeira vez.
Clarificada a sua relação com a literatura e com a exposição pública, em que realçou o facto de não depender da escrita, nem de contratos exclusivos com editores. “Dá-me mais liberdade”, disse. Ainda que considere uma aspiração legítima viver dos livros, insiste: “Fica-se prisioneiro”. E mesmo que reconheça que prémios literários, como o José Saramago, que venceu este ano, promova visibilidade, que admite, “é bom para vender livros”, admite que “tudo isto são mecanismos para gerir” pelo escritor.
Para Bruno Vieira Amaral, “o escritor hoje não tem peso”, porque, como afirmou, “a sociedade despolitizou-se e por isso, dos escritores já não se espera hoje ter opinião politica “. Os escritores devem, sim, “escrever livros relevantes”, uma mudança de estatuto que considera, “não é necessariamente mau”.
Reconhecendo ter abandonado a poesia, o escritor assume-se em vários registos, adiantando que a linha da sua escrita “é resultado de ouvir os outros”. “A mim, interessa-me muito as pessoas”, disse ainda, para partilhar com os leitores presentes que o seu primeiro romance “As Primeiras Coisas” é narrado na primeira pessoa, porque, “foram motivações muito fortes para escrever este livro.
São muito pessoais”, assumiu sobre a sua obra literária que trata uma história num bairro do Fomento à Habitação da Margem Sul, em que cresceu com a família, no Vale da Amoreira, no concelho da Moita de onde quis fugir, regressando décadas depois como narrador que “tinha vergonha de voltar ao bairro”, que se destinava aos trabalhadores da CUF/Quimigal e acabou por ser ocupado por moradores de bairros de lata e retornados de África, no caso do seu pai, de Angola.
Um regresso ao bairro que funcionou como uma fundamental cura “através das suas memórias”, porque só “damos conta da mudança de tempo, quando regressamos, não é quando viajamos”. Este livro “é a história da reconciliação pessoal” acrescentou o autor, que partiu destas suas memórias, transformando-as literariamente.
Bruno Vieira Amaral nasceu em 1978, é licenciado em História, é crítico literário, tradutor e autor de Guia para 50 personagens da Ficção Portuguesa. É ainda editor-adjunto da revista Ler. A sua primeira obra literária As Primeiras Coisas, foi considerada o livro do ano em 2013.
JL