Opinião

Porte&Clarke, Depannage Associates – Henrique Gomes

À primeira vista, a imagem traduz um gesto de enorme desportivismo, mesmo quase um ato heroico- um ciclista que prejudica a sua corrida, os seus resultados, para ajudar um outro ciclista que estava em dificuldades.
O “dar a roda” é um procedimento que permite uma menor perca de tempo ao ciclista que foi vítima de um furo.

Isso acontece com regularidade quando os ciclistas são da mesma equipa- existe um líder que é protegido pela restante equipa. A proteção ao líder é uma situação perfeitamente regimentada dentro das equipas mas que deverá respeitar o regulamento geral das competições de ciclismo.Ou seja, mesmo o apoio entre colegas de equipa tem limites.
Porte e Clarke, dois ciclistas australianos que correm em equipas diferentes, por momentos fundiram as duas equipas numa só, numa espécie de Porte&Clarke, Depannage Associates.

Ora a empreitada produzida por esta dupla, apesar de imbuída de aparente solidariedade e desportivismo, é ilegal. Os regulamentos da UCI proíbem a prática de tais procedimentos.
Objetivamente, com um regulamento deste género pretende-se evitar a criação de pelotões dentro do próprio pelotão, impedir esquemas entre ciclistas de equipas diferentes de que resultariam adulteração dos resultados desportivos-os seguidores de ciclismo e sobretudo os seus praticantes sabem que em algumas competições do passado, os resultados eram definidos à partida e não na linha de chegada.

Focalizando no caso atual, no caso de ontem e essencialmente em Porte e na equipa SKY, a abordagem à situação em causa poderá ser feita em termos mais particulares.
Poderemos perguntar, por exemplo, se seria possível o mesmo caso acontecer a Contador?

Resposta obvia: Não! Por vários motivos, seria de todo impossível Contador aceitar uma roda de um adversário em tal circunstância.
Contador conhece os regulamentos; Contador estimula o espírito de equipa; Contador não estaria sem colegas de equipa por perto numa etapa deste género.
Mas não seria por acaso que tal sucederia, porque Contador, por exemplo, não dorme numa auto-caravana afastado dos restantes colegas de equipa. Contador escolhe os colegas de equipa e valoriza-os. Junte-se a isto o facto de o carro de apoio da equipa de Contador “voar” em direção ao ciclista, mal fosse conhecida a dificuldade do ciclista.

Porte e a SKY foram de uma ingenuidade pouco compatível com o estatuto de competidores de alto nível: um ciclista e uma equipa que se arrogam pioneiros na aplicação de novas metodologias no ciclismo profissional, não poderão cometer erros tão básicos.
Ficam algumas interrogações no pós furo de Porte
– Funcionaram os auriculares?
-Porque demorou tanto o carro da SKY a chegar junto do ciclista, quando a equipa ocupa a terceira posição no escalonamento dos carros?
-Onde estava o apoio neutro?
-Porte demonstrou de forma clara que tinha um furo?
O Giro até estava a ser engraçado…

Henrique Gomes
20/05

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