“Espectáculo!” – Por Florindo Pinto
A palavra “espectáculo”, tem o significado que a língua portuguesa lhe atribui, com a aplicação, que se lhe queira dar, mais adequada, quando se está em presença da “coisa”, que atrai o nosso olhar e, a nossa atenção, se contemplamos, ou, atentamente, olhamos determinado objecto, pessoa ou coisa, se estamos a assistir a uma representação teatral e, se a propósito daquilo que nos rodeia, queremos enaltecer, ou identificar determinada cena, ou somos colocados em presença de um qualquer comportamento menos usual, ou, e, ainda, se nos estamos a divertir, integrados no espectáculo.
É no dicionário que podemos encontrar a adaptação certa, ou a mais lógica, para usarmos, a palavra “espectáculo”.
Mas, esta palavra tão versátil, no seu uso, não se “compartimenta” ao precioso dicionário. O povo usa-a na sua linguagem simples, intencional, ou na sua verdadeira “linguagem” de povo, no dia a dia, para definir, classificar, ou identificar certas situações.
O povo, dá-lhe uso, dependendo da circunstância, do acontecimento, da vontade, do nível intelectual da pessoa, que a palavra pronuncia e, o que pretende identificar, dizer, ou demonstrar, para classificar o momento, ilustrar a frase, ou o assunto.
É frequente se ouvir dizer, a comida estava um “espectáculo”, aquilo foi um espectáculo, aquele prédio, é um espectáculo, o golo, aquele golo, foi um espectáculo. A viagem foi espectáculo, o tempo está, esteve, um espectáculo. Ele fala, ou falou, escreve, ou escreveu, um “espectáculo”, o tempo está, ou esteve, espectáculo. Estive na praia, no campo, no dia tal, foi um espectáculo. O meu miúdo, ou a minha miúda, o meu filho, a minha filha, o meu neto a minha neta, é espectáculo na escola, no desporto, na música, nos negócios, na lide da casa, a conduzir a viatura, etc.. O atleta (x), aquele que cativa/cativou a admiração de quem a palavra pronuncia e, também de outros, ou de alguns outros, passa a ser, ou já é, um espectáculo, no seu mundo desportivo.
E, de espectáculo em espectáculo, vai o ser humano, preenchendo o seu tempo, as suas conversas, com os seus amigos e, o seu espaço, no espectáculo, da vida, na vida terrena.
Nasce e, logo surge aos olhos dos seus familiares, como sempre é visto, o melhor, o mais inteligente, um espectáculo. Dá os primeiros passos e, os pais registam, para a posteridade, aquele espectáculo. Depois, fazem a sua matrícula na “pré”, onde, com novas companhias, começa a dar e, a apanhar os primeiros sopapos, mas não deixa de ser um espectáculo. Aquela, que foi em outros tempos, a Escola Primária, recebe o menino, a menina, onde o professor, nem sempre bem compreendido, tenta incutir-lhe o sentido de gente futura, que vê nele e, nela, mais um aluno e, ali, deixa de ser um espectáculo. Rebelde, ou não, obediente, ou não, aplicado nas aulas, ou não, continua a ser, para os seus pais, um espectáculo. E por que alguns pais estão a viver no tempo dos “direitos adquiridos”, com ou sem espectáculo, por que o tempo das “obrigações” há muito, que se foi, deixou de ser um espectáculo, eles, os pais espectáculo, que delegam nos outros, quase sempre nos professores, a educação que deviam assumir e, ministrar, sem espectáculo, alheiam-se do seu dever e, por vezes, estupidamente, dão espectáculo. Os filhos, seguem as pisadas e, os exemplos dos pais e, vivem em palco, uma, curta, ou longa, vida a dar espectáculo e, quando fora do seu lar, onde se revelam insubordinados, calões, gastadores e, passam os meses a passear os livros, dando espectáculo e, no fim do ano lectivo, oferecem aos pais um triste espectáculo, por que não conseguem passar de ano, mas não deixam, só por isso de continuar a serem, aos olhos dos pais, dos avós, um espectáculo.
Não conseguem apresentar trabalho produtivo, com resultados positivos, mas não deixam de ser, continuar a ser um espectáculo e, para aqueles pais impotentes, ou irresponsáveis o espectáculo acontece.
Se atingem o patamar, que separa a Escola Secundárias do sítio da outra Escola, a Universidade, nessa encruzilhada da vida, os cenários do espectáculo, passam a ter outros contornos e, a sua apresentação surge, com vários motivos, as necessidades, as razões, revelando o espectáculo em vários tons e feitios.
Uns escolhem, por opção, ou necessidades várias, o rumo normal em uma sociedade de consumo, alheios ao espectáculo da exibição, que os leva ao exercício de uma profissão, que se bem desempenhada, sem espectáculo e, bem remunerada, permite o criar de riqueza e, de bem estar, para si e para a comunidade, o que, em verdade, pode ser um bom espectáculo. Mas, e, quantos, entre os alguns que tiveram uma infância de sonhos, uma adolescência de espectáculo, sem terem criado hábitos de sobrevivência e, de aplicação no desempenho de uma qualquer atividade, ou função, por mais simples que pareça, mas útil à sociedade, desconhecedores do que significa cumprir um horário, procuram, com pouca convicção e, menor interesse o emprego, dando para os outros um espectáculo ridiculo.
Se encontram o indesejado emprego, quem os acolha, experimentado as suas capacidades, que não podem ser de bom espectáculo quando o portão da fábrica se fecha nas suas costas, sentem o horrendo do espectáculo, que passarão a viver no dia a dia. Horrendo, por que até então, alguns só tiveram a libertinagem por companhia, uma má companhia no espectáculo da vivência em um mundo de espectáculos vários.
Outros, os mais dotados de inteligência, ou os “meninos de pai”, optam, ou são enviados pelo caminho do ensino superior e, ali encontram um outro espectáculo, com maior ou menor grau de dificuldade, mas de enorme responsabilidade, na representação do espectáculo da vida.
Então, muitas dificuldades são preciso contornar e, vencer e, se querem singrar no mundo dos espectáculos, muito têm de estudar, de se sacrificar e de se aplicar, já que para aqueles que continuam na senda de ir passeando os livros, tudo continua a ser um espectáculo.
Todos estes, uns mais que outros, entram no espectáculo, sacrificam os pais, a família e, começam a gastar os recursos familiares e, também o dinheiro do Povo, no desempenho do seu espectáculo. Para os irresponsáveis, ou dotado de Q.I. reduzido, o espectáculo continua e, é para ser vivido. Pavoneiam-se nas ruas, dando espectáculo. O que podia e, devia ser cumprido em determinado número de anos, com trabalho, aplicação e, sem espectáculo, por via do comportamento gazeteiro, os actores mantém-se no dar espectáculo, durante anos e, mais anos, num abuso de perda de anos e, mais anos, contradizendo o normal, o natural e razoável, tempo de estudar, tendo o Povo sofredor, com o pagamento de impostos, a suportar as despesas, que o seu espectáculo originam.
Com os dinheiros dos muitos Impostos, suportados pelo Povo, os cábulas fazem o seu espectáculo e, tristemente, para alguns pais e mães, o seu filho, tristemente, olham o mau aluno, que, aos seus olhos, continua a ser um estudante espectáculo.
Quem paga, saído do orçamento familiar, ou dos cofres do Estado, quem suporta os custos do espectáculo, pouco, ou em nada preocupa, o artista principal, no espectáculo, por que, para alguns familiares, aquele aluno, continua a ser aceite, em sociedade “carunchosa” como sendo um estudante espectáculo
Como é, também, um espectáculo, quando os intervenientes no espectáculo escolar, no cumprimento da sua mais elementar obrigação, completam o seu curso, dentro do prazo estabelecido, nos papéis vindos da “grelha” superior, ouvir os amigos e, outras gentes a considerar o sucedido como tendo sido um grande feito, um admirável espectáculo.
Amadurecidos e, sensatos, pelos anos passados, ou se verdes na continuada burrice, ou, ainda, devido a outras coisas, que só o “mundo” poderá e, saberá explicar, os humanos, no espectáculo, são actores, realizadores, assistentes, intervenientes e, serão sempre, parte integrante de um grandioso e, muito diversificado espectáculo, que se resume, simplesmente, ao espectáculo da sua vida.
No palco da vida vivida, as cenas do espectáculo, no seu todo, são complexas, simples, previsíveis, complicadas, surpreendentes, agradáveis e, desagradáveis, compensadoras e, destruidoras de sonhos, compensadoras e, acalentadoras, para continuar, encantam e desencantam, sem deixar de ser um espectáculo.
Mas, acontecem coisas, que muitos consideram de um espectáculo, que são gravadas no nosso eu, no eu de cada um de nós, que guardamos no baú das recordações, para mais tarde, cada um a seu modo, as rever no seu sentir, recordar e, repensar o porquê de aquilo ter sido usado para “montar” o seu espectáculo.
E antes que o espectáculo da vida, suba ao palco da “mais idade”, para que o espectáculo seja realizado, ou que o anunciar da sua hora de representação se aproxima, muitos espectáculos foram realizados, tendo como mais directos intervenientes, aqueles que, no mundo do espectáculo, por que humanos são, sempre viveram, encenando, realizando, interpretando, em variadíssimos espectáculos.
E cenas de espectáculo, há as que deixam marcas, cimentam recordações, constituem uma parte muito importante da vida de cada um de nós.
Aqui e, ali, lá longe, ou cá bem perto, o palco dos espectáculos, está montado em regime de permanência e, as actuações acontecem. E, se em um qualquer dia, em um fugaz lampejo de séria expressão, ou em momento de vida, se ouve alguém dizer a palavra espectáculo, proferida com o sentir de quem, por certo, não se esperava aquela conduta, aquele comportamento, aquela forma de estar no espectáculo, o humano sente-se bem, sente-se compensado. Melhor se sente e, muito mais compensado fica, quando questiona e, passa a saber, através de uma resposta franca, o significado que pretendeu dar, naquele momento e, naquela circunstância, à palavra espectáculo.
E, se a simples palavra espectáculo, foi dita, pronunciada, com o reconhecimento no olhar, ou mesmo, com um ligeiro abanar de cabeça, a traduzir a satisfação de quem foi, também, interveniente no espectáculo, uma sensação de bem estar nos invade e, ao pensamento chega a certeza de que, afinal, vale a pena viver, ser actor, encenador e, o intérprete principal, ou não, em um mundo de espectáculos.
Natal de 2024
Florindo Pinto