A companhia MECANIkA, do vareiro Paulo Duarte, sediada em Montpelier, França, termina esta sexta-feira, uma residência artística no CAO (Centro de Arte de Ovar). “Estive cá há meia dúzia de anos, e mantive o contacto com a Fátima Alçada e agora surgiu esta possibilidade de vir cá fazer as minhas experiências de imagem”.
Paulo está a fazer experimentação com vista ao seu próximo espectáculo, em que é não só encenador, mas também partilha o palco com a actriz alemã Mila Dargies. Previsto para estrear no Outono de 2019, “O Outro” é um trabalho sobre o ciúme e surgiu de uma entrevista a um médico psiquiatra que tem a única clínica do mundo do ciúme. “Só o facto de considerar o ciúme como uma doença, achei fantástico”, contou-nos Paulo Duarte, para quem “vir a Ovar é sempre fácil”.
Ou seja, sendo “Mila alema, eu Tuga e a peça falada em inglês, portanto, isto é uma grande confusão, uma torre de Babel”, ironiza, bem disposto. “O factor social do ciúme foi o que nos apaixonou neste texto, que vai bastante além da mera terapia de casal”.
Depois, e não menos importante, para Paulo Duarte, “falar sobre o ciúme com marionetas, num trabalho sobre o ciúme, que tem a ver com o medo do outro, a projecção que fazemos de nós mesmos, para as marionetas é pão abençoado”.
“Eu gosto de máquinas, de novas tecnologias, de misturar coisas”, assevera. A MECANIkA surgiu de um trabalho que fez, há vários anos, em Barcelona, e “tinhamos de dar-lhe um nome e à falta de melhor, olhei para uma porta de ferro que estava à minha frente onde estava lá escrito mecânica. Ficou”.
Mais tarde, em França, Paulo passou por vários colectivos e, “quando quis formar a minha própria companhia, inicialmente em Rennes, recuperei o nome e com ele as minhas história todas”.
A MECANIkA nasceu em 2012, explorando a marioneta tradicional num diálogo permanente com outros campos artísticos contemporâneos. Da sua formação em pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto e na ESNAM – Ecole Nationale Supérieure des Arts de la Marionnette de Charleville-Mézières, Paulo Duarte partiu para o desenvolvimento da sua veia assumidamente experimentalista, sob uma forma denominada de teatro de imagem.
Da Ovar que deixou há mais de 20 anos e do que reencontra agora, ressalta-lhe logo o CAO – Centro de Arte de Ovar, que não havia. “Há também o pavilhão e centro comercial Dolce Vita, em contraponto com o antigo Raimundo Rodrigues, evoluções que acha normais. “O que eu vejo praticamente inalterável é o português que grita e opina sobre tudo. Isto é, sinto-me em casa (ri-se)”.